sexta-feira, 9 de março de 2012

QUISERA - ANA MARIA MACHADO


Mesmo que a voz materna diga que
À adolescência minha’lma retornara,
Que pelo alívio de me ter caído o fardo
De um amor que não dera nada,
Tornei à meninice, como se antes menina não houvera sido
Mesmo tendo dela ouvido que
Da idade na flor eu me encontro,
Quisera eu postergar do meu dia bendito uns anos
Para que perto de tua data eu nascesse
E teu afeto eu pudesse ter, então,
Pois parece haver um abismo
Entre os tenros anos teus e os meus não.

Hei de haver equivocado – meu coração está convicto,
Por ter se enamorado por ti, tão novo amigo
Mas não consegue evitar os devaneios mais doces
Que outrora não se permitia sonhar, antes, dores
Terá de fato meu coração se enganado
Ou seriam os anos os verdadeiros culpados?
Disto não sei, daquilo, também não
Apenas sei, meu amigo, que o sentimento não é vão.
Quisera eu que de mim tu gostasses
Isso – meu Deus – levar-me-ia aos ares
Onde olvidaria a diferença que o tempo nos dá
Onde aproveitaríamos as alegrias de amar.

Quisera eu que tu me olhasses
Como contemplam meus olhos os teus
Ignorando nossas idades, descobrindo a felicidade,
Desfazendo a distância que existe
Entre o teu desejado nascimento e o meu.

(Foto por Timo Cunha)

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