sábado, 3 de março de 2012

COLISÃO ENTRE DOIS SONHOS




Havia uma mulher. Seu nome não era Maria. Havia também um homem. Seu nome não era José. Eles eram fisicamente desconhecidos, mas, em sonhos, se conheciam. Viam-se sempre em sonhos costumeiros.
Inicialmente, entreolhavam-se, sérios, com certa timidez, sem coragem para uma aproximação. Permaneciam sonhos e sonhos apenas contemplando, de longe, um ao outro, sem que uma palavra fosse dita ou um sinal sequer emitido. O tempo passava devagar nessas horas e o silêncio torturava seus corações, provocando um turbilhão de vontades e dúvidas. Ela desejava conhecê-lo. Queria sua companhia. Ele queria abraça-la. Desejava sua amizade. Mas como ter certeza de que o outro, lá, do outro lado, tão distante, poderia almejar o mesmo? Como saber se isso tudo entre eles iria realmente dar certo?
Seus olhares cruzavam-se tantas vezes, como se por meio deles pudessem entender um ao outro. Em milésimos de segundos dos olhares infinitos, diziam um ao outro o sentimento que havia, faziam planos e contavam histórias. Na verdade, seu olhar era a sua comunicação. Todavia, em meio a tantos pensamentos incertos, qualquer possibilidade de comunicação esvaía abruptamente, restando apenas as dúvidas que cortavam o coração.
Até que, num sonho conturbado, entre um pesadelo e um sonho, esbarraram-se violentamente, a ponto de caírem ambos no chão, um ao lado do outro, meio tontos, por causa da colisão inesperada. Mesmo doloridos devido a tamanho tombo, somente sorriram, porque só  sabiam sorrir. Sorriram, porque finalmente, de fato, encontraram um ao outro.
As dúvidas evaporaram ligeiramente frente à certeza de que seu encontro era realidade, e as incertezas foram esquecidas diante da firmeza de sentimento que um sorriso transmitia ao outro. Suas expectativas e sorrisos eram correspondidos; não havia o que temer. Então, formalizaram o que seus olhos já haviam conversado há muitos olhares antes: fizeram companhia um ao outro e tornaram-se amigos. Beijaram-se e abraçaram-se.
A partir deste choque intenso, não puderam mais sonhar sem a companhia um do outro. Mal perceberam e já eram mais que simples amigos. Passaram a encontrar-se mais vezes, e por mais tempo, desfrutando cada parte do sonho, que antes corria devagar e torturante, e, agora, de tão agradável e prazeroso, voava rápido, parecendo muito pouco.
Nestes encontros, conversavam, brincavam, tomavam sorvete e caminhavam por parques, tiravam fotos e riam de si mesmos. Eles sabiam do sonho um do outro, conheciam os seus segredos mais profundos. Viviam enamorados, mesmo quando não sonhavam, porque tudo lhes era muito real.
A cada sonho, apaixonavam-se mais, porque o amor é inevitável quando tudo parece tão perfeito, tão exatamente preparado para ser. Eram felizes, simplesmente.

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