Havia uma mulher. Seu nome não era Maria. Havia também um homem. Seu nome não era José. Eles eram fisicamente desconhecidos, mas, em sonhos, se conheciam. Viam-se sempre em sonhos costumeiros.
Inicialmente, entreolhavam-se, sérios, com certa timidez, sem coragem para uma aproximação. Permaneciam sonhos e sonhos apenas contemplando, de longe, um ao outro, sem que uma palavra fosse dita ou um sinal sequer emitido. O tempo passava devagar nessas horas e o silêncio torturava seus corações, provocando um turbilhão de vontades e dúvidas. Ela desejava conhecê-lo. Queria sua companhia. Ele queria abraça-la. Desejava sua amizade. Mas como ter certeza de que o outro, lá, do outro lado, tão distante, poderia almejar o mesmo? Como saber se isso tudo entre eles iria realmente dar certo?
Seus olhares cruzavam-se tantas vezes, como se por meio deles pudessem entender um ao outro. Em milésimos de segundos dos olhares infinitos, diziam um ao outro o sentimento que havia, faziam planos e contavam histórias. Na verdade, seu olhar era a sua comunicação. Todavia, em meio a tantos pensamentos incertos, qualquer possibilidade de comunicação esvaía abruptamente, restando apenas as dúvidas que cortavam o coração.
Até que, num sonho conturbado, entre um pesadelo e um sonho, esbarraram-se violentamente, a ponto de caírem ambos no chão, um ao lado do outro, meio tontos, por causa da colisão inesperada. Mesmo doloridos devido a tamanho tombo, somente sorriram, porque só sabiam sorrir. Sorriram, porque finalmente, de fato, encontraram um ao outro.
As dúvidas evaporaram ligeiramente frente à certeza de que seu encontro era realidade, e as incertezas foram esquecidas diante da firmeza de sentimento que um sorriso transmitia ao outro. Suas expectativas e sorrisos eram correspondidos; não havia o que temer. Então, formalizaram o que seus olhos já haviam conversado há muitos olhares antes: fizeram companhia um ao outro e tornaram-se amigos. Beijaram-se e abraçaram-se.
A partir deste choque intenso, não puderam mais sonhar sem a companhia um do outro. Mal perceberam e já eram mais que simples amigos. Passaram a encontrar-se mais vezes, e por mais tempo, desfrutando cada parte do sonho, que antes corria devagar e torturante, e, agora, de tão agradável e prazeroso, voava rápido, parecendo muito pouco.
Nestes encontros, conversavam, brincavam, tomavam sorvete e caminhavam por parques, tiravam fotos e riam de si mesmos. Eles sabiam do sonho um do outro, conheciam os seus segredos mais profundos. Viviam enamorados, mesmo quando não sonhavam, porque tudo lhes era muito real.
A cada sonho, apaixonavam-se mais, porque o amor é inevitável quando tudo parece tão perfeito, tão exatamente preparado para ser. Eram felizes, simplesmente.
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