segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A CIDADELA - A. J. CRONIN


Eis aqui um livro digno de ser lido, se você quer saber a minha opinião. Gostaria de transcrever aqui um pequeno trecho deste livro, que me despertou um sorriso. Não há como não se encantar com a bela narrativa de Cronin. É mesmo de emocionar!


A reconciliação foi uma coisa maravilhosa, a maior maravilha que aconteceu na vida de Andrew e Christine desde os primeiros dias do seu amor. Na manhã seguinte, que era domingo, ficou deitado junto dela, como naqueles dias de Aberalaw, falando, falando, e, como antigamente, abrindo o coração para a mulher. Pairava lá fora a quietude do domingo. A música dos sinos era como uma sugestão de paz e tranquilidade. Mas Andrew não estava tranquilo.
– Como cheguei a fazer isso? – resmungava, aflito. – Eu estava doido, Chris? Nem posso acreditar no que fiz, quando penso nessas coisas. Eu metido com essa gente, depois de conhecer Denny e Hope! Meu Deus! Mereço um grande castigo!
Ela procurava consolá-lo: – Tudo aconteceu tão de repente, querido!... Era mesmo para uma pessoa perder a cabeça.
– Falando sério, Chris! Sinto que enlouqueço quando penso nessas coisas. E como você deve ter sofrido todo esse tempo! Deus do céu! Deve ter sido um verdadeiro martírio.
Christine sorria; aprendera a sorrir novamente. Como era tocante, maravilhoso  mesmo, ver o rosto dela perder o ar de desânimo e indiferença gelada, para mostrar-se meigo outra vez, feliz, cheio de carinho para ele. “Graças a Deus”, pensava Andrew intimamente, “estamos vivendo de novo”.
De repente, enrugando a testa: – Só nos resta uma coisa a fazer. – Apesar da vibração nervosa, sentia-se forte agora, livre de um nevoeiro de ilusão, pronto para agir. – Temos de sair daqui. Eu afundei demais, Chris, demais! Se ficasse aqui, eu me lembraria a cada momento da turma de charlatães com que me meti... E quem sabe se não voltaria a ser o que fui? Podemos vender a clínica faciolmente. E sabe, Chris? Tenho uma ideia estupenda!
– Tem mesmo, querido?
Alisou-se a ruga nervosa da testa e Andrew sorriu para ela timidamente, carinhosamente.
– Há quanto tempo que você não me chamava de querido! Isso me agrada. Sim, eu sei. A culpa foi minha... Mas não me deixe, Chris, voltar a discutir essas coisas! A minha ideia... Sabe como me veio esse plano? Veio-me à cabeça quando acordei hoje. [...]
Sua única resposta foi olhar para um lado e para outro e, com grande risco de provocar escândalo na rua movomentada, dar-lhe um beijo estalado.

A CIDADELA – A.J. CRONIN 7a Ed. (p. 371 e 377)

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