segunda-feira, 4 de maio de 2015

PRESTÍGIO, UM REAL.


Às 6h30 de hoje, eu acordei, me arrumei bem rápido, preparei um lanche para viagem e sai para o ponto de ônibus mais próximo de minha casa. Fiquei ali, de pé, por trinta minutos, na esperança de que a condução passasse para eu poder ir para o trabalho, mas foi em vão. Passou ônibus para Taguatinga Norte, Taguatinga Sul, Brazlândia, M Norte, W3 sul... Mas o bendito ônibus que vai para a Esplanada dos Ministérios não passou!
Desisti do ônibus e fui andando até a estação do metrô para tentar chegar o quanto antes ao trabalho. Atrasada eu já estava. Fazer o quê? Depender de transporte público é desse jeito mesmo.
Passando pelas catracas e descendo à plataforma do metrô, me dei conta que algum problema havia acontecido no dia. A estação estava cheia, lotada pela multidão à espera do próximo trem. Que desespero! Havia aglomerados de pessoas se empurrando em frente aos locais onde o metrô costuma parar e abrir as portas. Não havia organização alguma, não havia fila. As coisas funcionavam assim: cada um por si, vale a lei do que é mais esperto e consegue se enfiar no meio das pessoas.
Um trem passou e não consegui embarcar. Os vagões já vinham muito cheios com as pessoas das estações anteriores. Outro trem passou e eu não consegui entrar novamente. As pessoas se espremiam na tentativa de obter um espaço apertado entre o povo e a porta do trem. Que desânimo!
Por fim, já muito atrasada, não podia ficar esperando a manhã inteira, afinal já era mais de 8h. Passou o terceiro trem, e eu me espremi como as demais mulheres e entrei no vagão feminino. Não cabia sequer uma mosca no veículo e ainda faltavam 12 estações até o meu destino.
Perguntei a alguém próximo a mim se teria acontecido alguma coisa que justificasse a multidão, mas aparentemente, não. Era o horário de pico mesmo. Muita gente, poucos ônibus, poucos trens...
Após quase uma hora de viagem em pé e apertada até a minha estação final, desembarquei desanimada do trem. Ainda havia um dia inteiro de trabalho pela frente e eu já me sentia cansada. Indagava-me: esse é o tratamento que cidadãos trabalhadores da capital do país merecem? Creio que não.

Revoltada com o assunto, pus-me a andar para a rodoviária, para tomar o ônibus que me levaria ao trabalho. Seria essa a terceira peripécia da manhã para tentar cumprir meu itinerário. O ônibus conhecido por “Integração” é sempre muito demandado e veicula pelas vias do Plano Piloto vomitando pessoas de estação em estação. Era o meu ônibus.
Uma vendedora ambulante gritava: “Prestígio, um real! Prestígio, só um real.”. Um real apenas. Que prestígio é esse? Com um real não se compra nada hoje em dia, quanto mais prestígio! Mas ela se referia ao chocolate chamado prestígio... Pensei comigo mesma sobre a ironia da situação. O nome do chocolate, o seu valor, o ônibus, o metrô, a multidão apertada. O transporte público de Brasília é mesmo um desprestígio.
Até chegar ao trabalho, foram mais 20 minutos de espera, calor, aborrecimento, empurra-empurra para enfim completar minha jornada com 1 hora e 45 minutos desde que havia saído de casa. No final desta história, posso dizer que me sinto desprestigiada pelo Poder Público, por toda a odisséia. Que descaso! Se as pessoas têm o direito constitucional de ir e vir, de transitar pela cidade e viver, quais são as condições que o governo tem dado para que isso aconteça? Quase nenhuma.

Considerando a situação do trânsito das ruas de nossa cidade e as condições do transporte público, a população de Brasília tem mesmo muito ainda a ser beneficiada pelo governo. As pistas e os estacionamentos não são suficientes, os ônibus e o metrô não suportam a demanda, as condições de tráfego não são favoráveis. Desse jeito até o prestígio de um real está valendo mais que tudo isso.