segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ÉTICA FICA BEM: 2. Nossa vida, uma rede social.

Como disse na última postagem, um dos planetas no meu planetário é a Comissão de Ética da qual faço parte. Durante esses quase dois anos que tenho atuado como Conselheira, soube de muitas histórias de condutas antiéticas, tive contato com muitas pessoas que valorizam a ética, recebi várias denúncias de irregularidades no órgão, soube de exemplos bem sucedidos e troquei experiências com Conselheiros de outras comissões.

Toda essa carga de informações despertou em mim o interesse de escrever sobre ética na Administração Pública Federal. Assim, sinto a necessidade de colaborar, além da minha atuação na Comissão, fomentando a atitude ética aos servidores. 

É a série ÉTICA FICA BEM. Segue mais um texto.

Nossa vida: uma rede social.


O ser humano é por natureza um animal social, como já constatara Aristóteles. Numa linguagem moderna, nossa vida é uma rede social, composta por muitas relações: no trabalho, na família, na escola, na igreja.

Com o amplo acesso à internet, popularizou-se a utilização de programas de relacionamento e redes sociais. Por meio de tablets, smartphones, notebooks, qualquer pessoa se conecta ao mundo, não importando o lugar e a hora. Todo esse acesso, se bem utilizado, pode promover um relacionamento positivo entre as pessoas.

Porém, se mal utilizado, o acesso às redes pode ser um problema. O grande fator para que isso ocorra é utilização não criteriosa da rede e dos dispositivos. Conectar-se à rede no lugar e na hora errados pode ser muito inconveniente. Há pessoas por aí viciadas em facebook, twitter, instagram, e whatsapp, por exemplo; a qualquer hora que você as encontre, elas estarão de olho no dispositivo móvel. Chega a ser uma dependência psicológica e isso não pode ser saudável.

Imagine um servidor público que não consegue “desgrudar” do celular, porque o tempo todo recebe notificações das redes sociais das quais faz parte, prejudicando suas atividades no trabalho. Imagine também um colaborador do serviço que fica “pedurado” no telefone, falando com a família inteira durante a jornada de trabalho. Situações como essas devem ser evitadas por aqueles que prezam pela ética.

O Código de Ética dos Servidores Públicos do Poder Executivo Federal, sobre esse assunto, diz:
XIV - São deveres fundamentais do servidor público:

a) desempenhar, a tempo, as atribuições do cargo, função ou emprego público de que seja titular;
b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias, principalmente diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na prestação dos serviços pelo setor que exerça suas atribuições, como fim de evitar dano moral ao usuário;

Dessa forma, por mais social que a pessoa seja, ela deve ter em mente que existe momento adequado para acessar os dispositivos que possui, e que é necessário ter bom senso e equilíbrio na sua utilização. Quando se trata, então, de um agente público, é preciso ter um cuidado ainda maior com essa questão. 

O serviço público está relacionado intimamente com o interesse público, que é a finalidade pela qual os órgãos existem. O servidor não pode simplesmente deixar o seu chefe ou o cidadão usuário do serviço esperando, porque está conferindo sua conta no facebook!


quinta-feira, 2 de outubro de 2014

ÉTICA FICA BEM: 1. PÃO DE QUEIJO, CAFÉ E ÉTICA

Um dos planetas no meu planetário é a Comissão de Ética da qual faço parte. Durante esses quase dois anos que tenho atuado como Conselheira, soube de muitas histórias de condutas antiéticas, tive contato com muitas pessoas que valorizam a ética, recebi várias denúncias de irregularidades no órgão, soube de exemplos bem sucedidos e troquei experiências com Conselheiros de outras comissões.


Toda essa carga de informações despertou em mim o interesse de escrever sobre ética na Administração Pública Federal. Sinto a necessidade de colaborar, além da minha atuação na Comissão, fomentando a atitude ética aos servidores. Aqui, portanto, inauguro agora uma série de postagens cujos temas permeiam a ética e os valores morais pelos quais se deve pautar um servidor público. É a série ÉTICA FICA BEM. 

São histórias inspiradas em casos reais de denúncias, que, sempre, quando for o caso, ocultarão o nome dos verdadeiros envolvidos, textos motivadores e informativos sobre ética. Espero que a leitura dos posts leve cada leitor a uma reflexão e mudança de atitude.

1. PÃO DE QUEIJO, CAFÉ E ÉTICA



Cheguei ao trabalho de carro, de carona, desembarquei do lado do estacionamento, por volta das 6h30 da manhã, e, antes de entrar no prédio, resolvi comprar um pãozinho com a senhora que estava à porta com uma banquinha de café da manhã. Perguntei quanto era o pão de queijo e ela disse que custava R$3,00. Depois, perguntei quanto era o cafezinho e, para minha surpresa, a senhora da banca começou a discursar orgulhosamente, dizendo que seria incapaz de cobrar o café, que uma coisa dessas não se faz e tal.

Esperando o pão de queijo e o copo de café, olhando para ela, pude perceber que ela portava o crachá de acesso ao Órgão. Seu  rosto me pareceu familiar. Enquanto ela dizia que muitas bancas de pães cobram pelo café, mas ela não, ela preparou uma sacola com o pão de queijo. Continuando o discurso, ela confessou que o café era da Instituição e que por isso ela nunca poderia cobrar os seus clientes pela bebida! Ela apenas apanhava a garrafa com o café coado na copa do nono andar e descia para o térreo, a fim de vender os pães e dar o café como brinde, no horário do expediente.

A partir desse momento, comecei a falar para mim mesma, dentro da minha cabeça: não sou da Comissão de Ética, não sou da Comissão de Ética... Então, eu peguei meu pão de queijo, agradeci, entrei no edifício, e me dirigi a minha sala, não acreditando no que acabara de acontecer.

Comentando sobre o ocorrido com o pessoal da minha Seção, as poucas dúvidas sobre a história foram sanadas. A senhorinha do café da manhã, de fato, é uma copeira muito antiga, que trabalha no nono andar do prédio. Há muito tempo ela vende os seus pãezinhos na entrada dos servidores. Mas o café, não.

Discutindo sobre o fato, houve quem a defendesse: “Mas ela não cobrava pelo café!”. É certo que o problema na conduta da ingênua senhora não é exatamente esse. Exercer atividade particular durante o horário de trabalho é antiético, fere a jornada de trabalho, remunerada pelos cofres públicos. Além disso, cabe à instituição a destinação do café, e aos seus servidores, o consumo.

A Comissão de Ética foi comunicada e tomou as providências para o caso.