segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

MEU ATESTADO DE APTIDÃO MENTAL - Parte 2

Olá, meus amigos concursandos, a quem eu dedico esta série de publicações! Aqui está a segunda parte de uma história verídica sobre o meu atestado de aptidão mental. Se você ainda não leu a primeira parte, peço que volte uma publicação atrás para conferir tudo tim tim por tim tim.


MEU ATESTADO DE APTIDÃO MENTAL - Parte 2





A secretária, Dona Joana, uma mulher de meia idade, e de boa aparência, era responsável pelo atendimento pessoal, recebendo o pagamento dos pacientes e repassando o troco àqueles que pagassem em dinheiro. O ajudante era um rapaz, bem jovem, vestido de jeans, camiseta e boné, atendia aos telefones e preparava as notas fiscais. Ele também ajudava quando era necessária alguma força física para levantar algo pesado, ou quando Dona Joana – não raro – confundia alguma coisa e não sabia resolver sozinha (havia valores distintos para uma consulta comum e para uma consulta cujo objeto fosse “apenas” o atestado de aptidão mental).
Ao receber uma nota de R$ 100,00 reais das mãos de uma pessoa que chegara antes de mim, Dona Joana se concentrou para calcular o troco correto, pegar as notas na gaveta e entregá-las ao paciente. A fim de confirmar o troco, perguntou:
“É trinta, trinta, trinta reais, né, né, né?”
A pessoa, timidamente, respondeu que sim, estendendo a mão para apanhar o dinheiro. Dona Joana interpelou, repetindo incisivamente:
“É trinta, trinta, trinta reais, né, né, né?”
Então o rapaz, seu fiel ajudante, achou por bem intervir, confirmando derradeiramente o troco.
“Sim, Dona Joana, é trinta reais.”.
Fiquei sem entender a dificuldade em calcular o troco, mas continuei observando o que acontecia na sala atentamente. De repente, percebi que era a minha vez de ser atendida. Levantei-me e me dirigi à mesa de Dona Joana. Antes que pudesse falar qualquer coisa, me perguntou a secretária:
“Você é paciente, paciente, paciente?”
“Sim.” Eu respondi. “Eu vim para realizar um teste de aptidão mental.”.
Àquela altura do atendimento, percebi que eu devia ser mesmo paciente com Dona Joana, pois ela certamente repetiria, no mínimo três vezes, qualquer coisa que fosse me dizer.
Entreguei, então, o cheque a ela, agradecendo a Deus por não ter feito o pagamento em dinheiro. Caso houvesse a necessidade de troco, eu ouviria constrangedoramente o valor do troco umas sem vezes até que a secretária tivesse completa certeza de que a quantia estava correta.
“Obrigada.”
“De nada, nada, nada.”
Voltei assustada com aquilo e me sentei, observando meticulosamente as paredes, verificando a existência de câmeras. Não parava de pensar que o meu exame começara desde a hora em que eu havia chegado ao consultório. Imaginava que o Doutor Psiquiatra devia, de algum canto daquele recinto, estar analisando minhas reações diante daquelas situações, na finalidade de emitir o atestado pelo qual eu me encontrava lá.
Mas, para meu espanto, não havia câmeras. Aquilo ali era a vida real.
Todo mundo na sala assistia o atendimento de Dona Joana, com muita normalidade. Todos os atendimentos da secretária, sem exceção, eram marcados por exaustivas repetições. Ao longo do tempo, a situação ia ficando engraçada, e eu não conseguia me conter. Hora ou outra escapulia uma risada. Aquilo, de fato, era a vida real, real, real – de Dona Joana.
O tempo ia passando e nada do Doutor me chamar. Lembro-me que fiquei a tarde inteira no consultório e, creio que, por isso também, o episódio marcou minha vida tão profundamente. Esqueci de levar um livro ou alguma coisa para passar o tempo; minha distração era a própria situação.

[Continua...]

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

MEU ATESTADO DE APTIDÃO MENTAL - Parte 1


Meus amigos, aqui trato de postar uma experiência minha. Uma cômica história que Deus me deu a viver. Eu a dividi em várias partes, então, peço que esperem as próximas postagens para que possam saber o seu fim. Esta história dedico a vocês que são concurseiros, concursados e que estão o tempo todo dispostos a lutar e vencer. Chama-se:

MEU ATESTADO DE APTIDÃO MENTAL


Uma das minhas grandes alegrias nos últimos anos foi ter passado em alguns concursos públicos. É que o esforço que se envida é alto, e a vida que se investe é preciosa. Por isso, quando se passa em um certame desses, quando se é nomeado, quando se é investido em um cargo público, o contentamento é imenso.
Considerando a realidade de concorrência selvagem em Brasília, devido ao número de candidatos bem qualificados, a alegria de passar num concurso se torna mais significativa ainda. De fato, passar em um concurso não está fácil.
Todo mundo sabe, entretanto, que não basta, para muitos cargos, que haja a aprovação em prova examinadora; é necessário o exame psicológico, para se averiguar se o perfil psicológico do candidato aprovado é compatível com as exigências, quanto à competência, do cargo em questão.
Para minha sorte, um dos concursos em que passei exigia o laudo do médico psiquiatra, atestando a aptidão mental para o exercício do cargo. Digo sorte, pela experiência inesquecível que se tornou para mim a realização desse exame psicológico e, também por eu ter, agora, certeza de que realmente sou normal, é claro.
O meu plano de saúde da época não cobria a realização de um exame como esse. Tive de pesquisar bastante até encontrar um, com indicação, cujo valor me fosse acessível. Em um fórum virtual, no sítio do correioweb, vários candidatos também aprovados recomendaram certo médico psiquiatra, que atendia em um consultório no Conjunto Nacional, por apenas R$ 70,00. Não havia escolha, nem tempo. Ia ser este mesmo.
Liguei antes para agendar a consulta, mas a pessoa do outro lado do telefone disse que o atendimento era feito por ordem de chegada. Então, naquela tarde, tratei de chegar bem cedo ao consultório, para ser atendida logo, mas me enganei ao achar que isso seria eficaz. O consultório já estava completamente cheio quando cheguei.
Havia pessoas em pé, sentadas pelos bancos e cadeiras espalhadas na recepção improvisada. Enquanto eu esperava para falar com a secretária, sentei-me num dos últimos lugares vagos, em um banco de madeira de três lugares – para não ter de ficar em pé, caso alguém mais chegasse, já que, pelo visto, a minha tarde seria longa – compartilhando o espaço com uma futura colega de trabalho. Além de nós duas, havia pacientes costumeiros do Doutor Psiquiatra, candidatos aprovados em outros concursos e alguns acompanhantes.
O lugar era, na verdade, a junção de duas salas comerciais, transformadas em um consultório, cujo espaço dividia-se em um quarto reservado, onde o médico fazia o atendimento, fechado por uma porta de madeira; a recepção, onde havia as cadeiras e bancos para espera; o banheiro e o lugar onde ficava a secretária e o seu ajudante. A decoração do consultório consistia em paredes repletas de fotos do Doutor com pessoas desconhecidas, e algumas reportagens em que ele aparecera, emolduradas especialmente para aquele propósito.
Antes que eu pudesse notar qualquer coisa demasiadamente estranha naquele consultório, observei um jovem senhor saindo do banheiro, dirigindo-se a pia, que se localizava próxima ao lugar onde eu estava. Ao abrir a torneira, desenroscou, desenroscou, na tentativa de lavar as mãos, porém a água não saía. Queixou-se ao rapaz que ajudava no atendimento, que se antecipou e perguntou friamente ao senhor, em um tom de voz bem audível a toda a sala:
“O senhor deu descarga ao usar o banheiro?”
Ao ouvir aquela pergunta, pensei comigo mesma na grosseria do ajudante, imaginando o constrangimento que ele fizera o jovem senhor passar na frente de todos, mas fui imediatamente interrompida no meu pensamento, quando, justificando a pergunta, o rapaz disse o seguinte:
“É que se o senhor dá descarga, a água da caixa d’água acaba e não tem mais para lavar a mão.”
Não contive minha risada. Que pobreza, meu Deus do Céu! Não havia água suficiente para que uma pessoa usasse o banheiro e lavasse as mãos. E também não havia qualquer discrição do ajudante da secretária ao dar uma resposta daquela.
Comecei a perceber somente então onde havia me metido.
[Continua...]

sábado, 7 de janeiro de 2012

Como tudo começou...

Minha história começa exatamente onde e como começou outra história: a história de Adão e Eva. Minha história se mistura com a dos dois, como se fosse uma versão particular dos mesmos eventos que lhes acometeram. Uma espécie de repetição, embora eu me esforce muito para mudar as coisas e fazer tudo diferente. Uma repetição de atitudes que estão ligadas a sua natureza. Esta natureza não se refere somente à herança genética; é uma herança de família, uma herança espiritual. É como se estivesse impregnada na minha carne e alma a vontade, o desejo de agir da mesma forma como eles agiram há tanto tempo.
Felizes eram Adão e Eva por estarem ali, no Éden, aquele lugar lindo, e tão perto da presença de Deus. Desfrutavam do frescor suave do orvalho toda manhã, sentiam o calor do sol durante o dia, queimando levemente suas faces, cuidavam das plantas e animais como se fossem seus bichos de estimação, aproveitavam a amizade de Deus todas as tardes, dando gargalhadas das coisas engraçadas que conversavam nos seus encontros. Não havia nada melhor do que encerrar um dia no jardim conversando com o Criador, provando as frutas mais gostosas, fazendo um lanche no finalzinho da tarde e contando tudo o que acontecera durante o dia, como se Ele não soubesse de antemão. Mesmo assim, Deus ouvia com atenção, fazendo perguntas e esperando as respostas, como um amigo que deseja se aproximar mais e descobrir os segredos íntimos do coração. Depois de tudo, um abraço gostoso de despedida, antevendo o próximo encontro, como se um único abraço pudesse contar quantas mil coisas maravilhosas aconteceriam no dia seguinte.
Entretanto, a beleza, a companhia, a natureza não pareciam suficientes a Adão e Eva. Havia algo na árvore, no meio do jardim, que lhes atraía para perto de uma grande cilada, e, a cada dia mais os afastava da amizade de Deus, sem que se dessem conta.
Eva ardia de desejo por experimentar algo que era proibido, algo de que certamente não precisaria nunca, pois ela e Adão estariam sempre ali, debaixo do olhar cuidadoso de seu Criador. Mas ela não conseguia disfarçar a sua inquietude ao olhar para a árvore e desejar seus frutos. Seus olhos se fixavam neles atentamente ao passar próximo à planta, e suas narinas dilatavam-se procurando a fragrância proibida exalada dos frutos. Porém, muito mais do que o sabor e o cheiro do fruto, o conhecimento do bem e do mal apetecia a Eva, a ponto de sentir-se envolvida e cativada pela árvore, a ponto de lhe dar água na boca.
Adão também não podia esconder sua vontade de conhecer as coisas ocultas, as coisas para as quais ele não fora criado, mas pelas quais estaria disposto, num momento de fraqueza, a arriscar a amizade da pessoa que mais o amava: Deus. Tentava disfarçar, pois se sentia no dever de manter-se firme e proteger Eva de qualquer mal que a árvore pudesse representar, caso houvesse algum incidente, mas não conseguia evitar que seus olhos constantemente repousassem ansiosos nos frutos graciosos dela. Seduzido pela árvore, não havia outra sombra, senão a dela, que pudesse oferecer lugar mais aconchegante para estar. Ali, Adão, desejava conhecer algumas informações, as coisas que Deus sabia, mas ele, não.
De alguma forma, a árvore exercia sobre Adão e Eva uma força que os trazia para si, lhes induzindo o pensamento, tentando lhes convencer de quão bom seria conhecer o bem e o mal. Era isso que atraía o coração do jovem casal, era esse o conhecimento que lhes parecia faltar falsamente.
A serpente soube exatamente como atingir o que almejava. Ela usou seus ardis para atrair o casal e envolvê-los na tentação que a árvore já exercia sobre eles. A voz sedutora da cobra os embalava num movimento frenético até os frutos dos galhos mais baixos, fazendo-os titubear enquanto ponderavam as suas atitudes e consideravam vantajosa a sugestão do animal. Nas mentes de Adão e Eva, uma luta era travada entre os estímulos ocasionados pela serpente e o dever que sabiam ter de cumprir por obediência ao seu Criador. Quando se deram conta do que acontecera, o fruto em suas mãos já havia sido mordido e o sabor forte espalhava-se por suas bocas, amargando o gosto da fatal dentada.
A história de Adão e Eva foi planejada para ser linda. Uma história de um jardim, de uma natureza sem igual, de uma aventura, de um relacionamento pleno com Deus, de um amor intenso. Não se pode dizer que tudo o que fora arquitetado originariamente para se viver no Éden acabou-se por completo, mas, é fato, as coisas não são e, às vezes, não passam sequer perto do que realmente deveriam ser. Agora, que há o pecado, há dor, há separação de Deus: há morte. A história já não é tão linda como poderia ser, graças ao conhecimento do mal.
Mas, porque o conhecimento trouxe tanta desgraça? Desde sempre Adão e Eva sabiam que jamais deveriam provar do fruto da árvore proibida. Quebrar essa ordem já trazia sobre eles muita desgraça, pois ninguém na história da humanidade havia infringido mandamento algum. Eles foram os primeiros a passar pela porta do pecado e deixá-la aberta para os humanos de todas as épocas atravessarem amplamente, como se abrissem um caminho largo que leva à morte.
A primazia na fraqueza de desobedecer já se constituía rótulo de miséria enorme para os dois. Mas, além do peso desse título, a desobediência trouxe a suas mentes o conhecimento que até então era como se vendado aos olhos. O conhecimento que mudaria o rumo da história, que escureceria toda a luz e o brilho da vida no jardim. Toda a informação que o fruto da árvore poderia dar era desnecessária: tomar consciência da nudez, da maldade, do pecado era tão dispensável que Deus preferiu não conferir essa prerrogativa ao Homem. Mas o Homem quis obtê-la a qualquer custo. Alto custo.
A árvore proibida rendia frutos de conhecimento do bem e do mal. O maior bem que Adão e Eva poderiam viver, eles já viviam: viver no jardim, com a amizade de Deus. Eles podiam até não compreender a magnitude disso, mas eles estavam ali, não precisavam de mais nada, pois tudo estava ao seu alcance e havia a presença real de Deus. Porque desejariam eles o conhecimento de algo além daquilo que eles viviam ali? O que realmente procuravam se não lhes faltava nada? O que informações ocultas poderiam acrescentar às suas vidas?
O conhecimento, a informação só trouxe perdas. Grandes perdas. Não que Deus quisesse mantê-los na ignorância, pelo contrário, o Senhor desejou que Adão e Eva soubessem como viver ali no jardim, como cuidar da natureza, como se relacionarem com Ele. Isso era realmente relevante: o contato com Deus. O mal não era necessário, não era importante o suficiente para fazer parte dos planos do Senhor. Afinal, os Seus planos são sempre para o bem, seus pensamentos muito mais elevados do que se pode imaginar.
Jesus veio para recuperar os planos originais do Éden. Pois o Criador não havia empregado todo o seu esforço para fazer um universo inteiro em seis dias e perdê-lo em um único dia, por causa da desobediência do primeiro casal humano. Assim, Deus quis, mesmo diante da terrível demonstração de desobediência do Homem, trazê-lo novamente para si, religando a relação que foi quebrada quando Eva e Adão provaram do fruto da árvore proibida. Jesus foi o laço para que a relação fosse reatada. E esse processo de restauração custou alto valor para Deus, porque somente alguém tão grande quanto o próprio Criador poderia fazer algo para reparar a situação em que o casal se metera. Então, Jesus, o único filho do Pai, foi dado, como sacrifício, que pagou o pecado de Adão e Eva, e, ainda, os pecados de todo o mundo, de todos os tempos, de toda a história, para que o Homem pudesse desfrutar novamente das delícias do jardim, da história planejada desde o começo. O ato de dar o próprio filho, o ato de oferecer uma segunda chance é, sem dúvida, o gesto mais maravilhoso de amor que alguém poderia manifestar. A Deus, portanto, eu sou eternamente grata. O amor do Pai foi por mim, desde o princípio.