segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um fim de tarde cinza para uma alma cinzenta - Parte II

Há pouco tempo ele percebera a necessidade de controlar a pressão. Desde então, as preocupações lhe tomaram a mente. Sem contar com o estado de espírito, que já lhe era acinzentado há um pouco antes. Por isso, por causa do céu, por ser terça-feira, pelo estado de sua alma, ele estava daquele jeito: ofegante. Faltava-lhe ar (não o cinza – este havia de sobra sobre sua cabeça, mas outro, de outra cor).
Então, começou a pensar na quarta-feira. O pensamento não lhe era ruim; acalmava a respiração. A quarta-feira costumava ser um dia mais leve, por isso, o céu desse dia geralmente apresentava tons de azul claro e umas salpicadas discretas de cor de rosa – nada além disso. Às quartas, ele corria.
Correr, em si, não muda muita coisa. Afinal, no trabalho, corria; dos relacionamentos e comprometimentos, corria; de Deus, corria; de tantas coisas ele corria! Medo, talvez. Má influência dos pais, pode ser. Enfim, às quartas, ele separava um tempo, para, antes de ir ao trabalho, de manhã, no Parque da Cidade, correr, sozinho.
Correr alterava o tom do céu de quarta-feira, pois lhe era proposta a chance de mudar a rotina da semana. Corria de si mesmo. Corria de enfrentar desde cedo, naquele dia, a necessidade de enfrentar o trabalho, a dor, a solidão. Correr ao menos, postergava um pouco esse enfrentamento; ao final do dia, entretanto, era inevitável: o céu – e a alma – haveria de estar como estava naquele momento, naquele ônibus, após o trabalho.
Assim como na quarta-feira, nos finais de semana havia a chance de mudar a rotina. Mas, já no domingo à tarde, um sentimento súbito, sorrateiramente, entristecia-lhe o coração. Era o controle infeliz, novamente. E de controle esse controle só tem o mesmo nome, pois ele lhe deixava apenas descontrolado. Que droga! Mal conseguira recuperar a respiração e já ofegava de novo, devido ao maldito controle.
Bons os tempos em que era criança.

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