segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

MEU ATESTADO DE APTIDÃO MENTAL - Parte 3 (Final)

Eis aqui o fim da história verídica sobre o meu atestado de aptidão mental. Se você ainda não leu o início da história, não comece por esta publicação. Volte até a parte 1, para acompanhar tudo na ordem certinha!

MEU ATESTADO DE APTIDÃO MENTAL - Parte 3 (Final)



Havia um homem, que me chamou a atenção, aguardando o atendimento do Doutor. Seus cabelos, necessitados de um corte, brancos e desgrenhados, posicionados em direção ao céu, como se ele tivesse levado um choque de alta voltagem, atraiam o olhar de quem passasse no corredor lá fora do consultório. Era um senhor de meia idade, um pouco calvo, gordo, moreno, com os olhos esbugalhados. Os olhos eram realmente esbugalhados, porque não me lembro de ter visto em toda a minha vida olhos tão jogados para fora do rosto como aqueles. Era de dar medo. Não queria que ele olhasse para mim.
Aquele senhor assustador esperava calmamente havia horas pelo seu atendimento, até que o paciente que saiu do consultório lhe chamou o nome, a pedido do Médico, a fim de que entrasse para a consulta. Havia chegado finalmente a sua vez. Levantou-se e entrou na sala, fechando a porta após si.
Nesse momento, o ajudante de Dona Joana me pediu que respondesse um questionário, escrevendo informações a meu respeito em um papel branco, do tipo ofício, que ele mesmo dobrara ao meio e me dera. Eu devia escrever ali meus dados pessoais, o nome do órgão para o qual eu iria entregar o atestado – caso fosse considerada apta – e mais alguma coisa que já não lembro mais.
Depois de preencher o questionário, olhei despropositadamente em direção à porta do consultório, como se com o meu olhar eu pudesse fazê-la se abrir e o Doutor me chamar para o atendimento. Mal me dei conta de que saía de lá, feliz da vida, o senhor assustador, com uma receita na mão. O atendimento havia sido recorde! Em apenas cinco minutos o problema dele – aparentemente – tinha sido resolvido.
Achei aquilo um tanto quanto estranho. Não me parecia um caso tão fácil de se resolver. Talvez tenha ficado muito impressionada com a figura do senhor assustador e pensara que iria demorar demais o atendimento dele. Bem, o que importava agora era que havia menos uma pessoa a minha frente naquela fila de espera.
Devolvi o papel ofício devidamente preenchido com as informações ao jovem ajudante, já impaciente com a demora daquilo tudo. Quando por pouco me dava por vencida, a ponto de desistir daquela consulta, ouvi falar meu nome. Um sujeito que terminara seu atendimento, saindo da sala, indicando com a cabeça em direção ao consultório onde o médico estava, chamava o próximo paciente. Finalmente chegara a minha vez!
O ajudante de Dona Joana antecipou-se e entrou no consultório antes de mim, entregando ao Doutor o papel que eu preenchera, cochichando com o médico algo que não pude entender. Após a troca breve de segredinhos, fez um sinal com a cabeça, em sentido afirmativo, saindo da sala e fechando a porta, enquanto o Dr. Psiquiatra analisava descontraidamente as minhas informações no papel.
Sentada à frente do médico, olhando a sua expressão, eu esperava perguntas capciosas e exibição de figuras psicodélicas nas quais eu deveria encontrar algum sentido. Porém, me enganara. Ao levantar a cabeça, passando a mirar do papel o meu rosto, o médico confirmava uma por uma as informações que eu havia apresentado no questionário. Calmamente, verificando os meus dados, finalizou a análise, sem delongas, afirmando ser desnecessário qualquer procedimento mais aprofundado.
Discursou por poucos minutos justificando como seria inútil prolongar aquela consulta, dizendo que para o propósito de comprovação de aptidão mental para fins de investidura em Concurso, bastava ter passado nas provas, como era o meu caso.
Digitando rapidamente o meu nome em um modelo já preparado para a emissão de atestados na enorme tela de seu computador, fazendo um barulho danado com o bater do seu teclado, e encerrando a explicação sobre a exigência desnecessária do atestado, imprimindo uma folha, carimbou, assinou e me deu na mão, confirmando: “Como a senhorita veio aqui somente para ter um atestado, não vejo motivos para uma consulta tão demorada.”.
Saía, então, eu daquele consultório. Ouvi três obrigadas após mim, ditos por Dona Joana, que sequer percebia quem se retirava, sem levantar a cabeça dos papeis que verificava sem muita atenção. Admirei pela última vez os retratos pendurados na parede, e caminhei em direção à porta de saída, pensando que gastara toda a tarde ali. Não fazia mal. Eu possuía, enfim, o meu atestado de aptidão mental.

Um comentário:

  1. Pessoal, como muitos já me enviaram e-mails para obter informações sobre o médico psiquiatra desse exame baratinho, gostaria de esclarecer aqui que INFELIZMENTE A CLÍNICA FOI FECHADA E O DR. NÃO ATENDE MAIS EM BRASÍLIA. Lamento não poder ajudá-los. Sei que é um absurdo o valor que andam cobrando por aí para fazer esse exame. Caso saibam de uma clínica ou médico que faça um preço razoável, postem aqui. Vamos promover um ambiente de cooperação nesse blog. Boa sorte a todos!

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